segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Jano e a origem do Reveillon


Na mitología romana, Jano, era um deus representado por uma figura com uma face voltada pra trás (passado) e outra pra frente (futuro). A sua face média era desconhecida, pois que era tida como o nexo, o momento exato da passagem do que foi para o que virá. Era o porteiro celestial responsável por abrir as portas para o ano que se iniciava, por isso é conhecido como "Deus das Portas". Também era o deus das indecisões, pois na mitologia se o encontra-se uma cabeça falava uma coisa e a outra cabeça falava outra coisa. Existem, no entanto, em alguns locais, representações daquele deus com quatro faces.

Jano é exceção no panteão romano, visto não haver seu correlato entre os gregos. Tampouco o encontramos nas mitologias indo-européias, e seu surgimento está envolto na aura da incerteza. Uns dizem que nasceu em Cítia, na Ásia Menor; outros, que seja proveniente de Perrébia, cidade da Tessália, região da Grécia. Algumas versões o fazem filho de Apolo e Creusa, filha de Ereteu, um dos reis de Atenas. Entretanto há semelhanças entre o deus etrusco Ani e Jano. Na mitologia etrusca Ani era o deus do céu, residindo na sua parte mais elevada e, algumas vezes, retratado com dois rostos. 

Efígie de Jano Bifronte em denário
 romano de bronze, moeda corrente
no séc. II a.C.
A lenda conta que quando jovem, Jano teria seguido pelo mar Tirreno até as terras que hoje são a Itália, acompanhado por uma extensa frota. Aportando, seu exército fez várias conquistas e Jano construiu sua cidade, Janícula. Daí passaria a reinar no Lácio. Saturno, destronado por Júpiter e expulso do céu, vendo-se obrigado a viver no exílio, buscou inicialmente abrigo no Lácio, onde foi bem recebido por Jano. Profundamente agradecido, ao partir, abençoa seu anfitrião com o dom da mais alta prudência, conferindo-lhe o poder de ver o passado e o futuro ao mesmo tempo. Por esse motivo, os romanos cunhavam a efígie de Jano em sua mais antiga moeda, o asse, ora representando-o imberbe, ora barbudo,  as vezes uma face feminina e outra masculina, raramente de corpo completo, mas sempre com dois rostos numa mesma cabeça, voltados para direções opostas, de modo que suas faces nunca se olham. Uma delas pode ver somente o passado, conquanto a outra antecipa o porvir. Escavações arqueológicas encontraram moedas com Jano bifronte tendo em seu reverso a proa de um barco, em menção ao domínio que os romanos lhe atribuíam, já que o consideravam introdutor dos barcos e do comércio. 

Cícero (106-43 a.C.) associa o termo jano ao verbo ire (ir) e ressalva que os caminhos públicos romanos eram chamados de jani. Outras fontes associam-no à palavra janua, a significar “portas em forma de arco”, ou “aquilo que abre e fecha”, estando a guardar não só as portas das casas e cidades, como também os portais do céu. Nesta condição, Jano sustenta dois símbolos, a chave e o báculo, com os quais os porteiros fechavam e defendiam as entradas das cidades. Jano preside tudo o que se abre, é deus tutelar de todos os começos; rege ainda tudo aquilo que regressa ou que se fecha, sendo patrono de todos os finais. Por sua dupla função, recebeu dos romanos dois epítetos principais, Jano Patulcius, ou “aquele que abre”, e Jano Clusius, ou “aquele que cerra”. Neste aspecto estava relacionado às guerras, posto que anunciava seus começos e seus términos, relação que teria surgido provavelmente durante o episódio do rapto das Sabinas. 

O segundo rei de Roma, sobretudo, prestigia Jano e resolve construir-lhe o já citado templo. Consta que seus templos permaneciam abertos enquanto durassem os conflitos, para somente serem fechados em tempos de paz, numa tradição que perdurou até o século IV d.C. O Templo de Jano, erguido em Roma na região do Fórum, teria permanecido fechado por longos anos durante o pacífico reinado de Pompílio; uma vez reaberto, só voltou a ser cerrado após a segunda guerra púnica, e por mais três vezes, com distintos intervalos, já no reinado de Augusto. Por volta de 700 a.C. faz alteração no calendário de Rômulo, de referencial lunar. O ano até então tinha apenas 304 dias, divididos por dez meses; começava no equinócio primaveril, em Martius (março), e os meses seguintes eram Aprilis, Maius e Junius; daí em diante vinham os numéricos: Quintilis, 5º mês, Sextilis, o 6º, September, o 7º… até December, o 10º mês. Numa Pompílio, observando as imprecisões desta contagem, incluiu dois meses no ano romano, elevando para 355 seus dias, e batizou os novos meses de Januarius, em homenagem a deus Jano, e Februarius, em menção às festas com este nome. 

Até que Júlio César, encomendando os trabalhos do sábio Sosígenes, astrônomo de Alexandria, em 46 a.C., resolve corrigir novamente o calendário, passando a adotar o ano solar com período de 365 dias e ¼, sistema este mais preciso que o anterior, que só seria aprimorado em 1582 pela reforma gregoriana. César rebatizou o mês Quintilis com o nome de Julius, numa homenagem a si mesmo; transferiu o equinócio de primavera para 25 de Março, e determinou, através de um decreto, que o ano começasse em 1º de janeiro ( Dia do Ano-novo), fazendo jus à divindade bifronte capaz de estar entre o tudo e o nada, olhando concomitantemente o passado e o futuro. 
Apesar da determinação dos romanos, outros povos já comemoravam algo como o fim de ano ou ano novo.

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